15/07/10

Acredito que a verdade reside muito mais vezes no silêncio do que nas palavras, por mais belas e justas que sejam, mesmo quando voam do coração.
Sou de poucas conversas e prefiro falar do mundo com ironia do que dissertar sobre o que me forra a alma, porque quem me conhece consegue ler nela tudo o que precisa e além disso, sem palavras nunca há equívocos.
Tenho mãos e olhos e tempo para aqueles que amo e quando se ama alguém é como se nos nascesse um algo em nós q nunca nos vai abandonar, é uma luz, uma luz serena, quase divina, que nenhum curto-circuito consegue apagar.
Esperam-nos as noites em claro e manhãs preguiçosas, a tua pele encostada à minha, a respiração profunda e regular do teu corpo adormecido e o cheiro salgado da tua pele quando te estenderes ao meu lado na areia, "longe do mundo mas perto de mim". Tens uma docilidade igual à minha, genética, quase inconsciente, que te corre no sangue e que tentas esconder de ti próprio. Às vezes consegues, és como eu, sabes disfarçar a dor, a tristeza, a solidão, a ausência, o medo e o desencanto e quando não consegues, vais-te embora e lambes as feridas em segredo até estares curada, mas sempre mantendo uma posse plena sem dares o braço a torcer e dizes bem alto para toda a gente o ouvir "eu estou bem!"
O amar em silêncio vem-me da infância, quando brincava anos a fio com o lambreta sim o meu ex-cão, um dos seres mais  magnificos que conheci.Era meio louco, adorava-me, e adorava roer os meus chinelos e dormir comigo. Sabia sempre qual era o seu lugar e usava sempre a sua simpatica canina para conquistar os humanos com grande talento e muita discrição.Era um grande amigo e nós nunca precisavamos de conversar.
 Às vezes, muito poucas, eu dizia-lhe umas coisas que me preocupavam e ele respondia-me com um olhar ou um suspiro e eu percebia o que ele me queria dizer, que o mundo poder ser um lugar difícil, mas, se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós. E que o importante é não complicar, ter tempo para descansar e brincar, seja qual for a nossa idade. O Lambreta ensinou-me a amar o silêncio e a respeitar o silêncio dos outros.
Mas também me ensinou a atacar de forma letal os meus inimigos como ele atacava os meus chinelos, a ser grato a quem me quer bem e a lamber as feridas longe dos outros. ele fugiu,alias foi raptado ele era lindissimo e tenho muitas saudades dele acreditem que deixou um vazio na minha vida.
Nunca esquecemos aqueles que amamos, nunca deixamos de amar aqueles que nos amaram, nunca perdemos a sabedoria que nos ensinaram, nunca deixamos de ter saudades daqueles que mudaram a nossa vida. E é por isso que quando escondes a cabeça abaixo do meu ombro direito e dizes em voz muito baixa temperada com riso e embaraço que se calhar te estás a apaixonar por mim, fico calada para que me oiças melhor e penso que sou uma pessoa cheia de sorte. O meu cão lambreta tinha razão,a vida nem sempre é fácil e o mundo pode ser um onde nós temos de nos savar e passar por cima da tristeza, onde pessoas que têm prazer em fazer o mal, mas se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós.
 E tu já fazes parte da minha vida.

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