03/12/10

Punhas-te à janela, todas as tardes, e quando eu passava, esticavas mais os ombros para a frente, e eu olhava discretamente para ti...mas isso já foi no depois, quando o encanto foi trocado pela tristeza,quando descobri que a unica verdade em ti eram os olhos azuis.

Eu só tinha quatorze anos, eu não sabia nada da vida e o pouco que aprendera na rua nao me servia de quase nada., tinha visões de um mundo onde reina o bem sobre o mal, por isso quando te vi à janela, pensei que era um anjo,um anjo que iria cuidar de mim para sempre.
Eu sei que o teu trabalho te obrigava a estar vários dias fora de casa, mas tu podias ter tido mais calma, podias ter feito as coisas de outra maneira. Podias ter ido embora simplesmente,mas nunca fazer o que fizeste. Podias ter escolhido uma delas e tê-lo escondido do resto do mundo, assim ninguém sabia, nem eu e se ninguém soubesse, continuávamos a ser felizes.
Mas tu tinhas que te pôr todos os dias à janela, com o teu olhar incendiado quando eu passava.
Tu tinhas que lançar o teu feitiço sobre toda a gente, e todos já sabiam disso, menos eu,a estupida e a parva que pensava que o bem reinava sempre sobre o mal.
Mas a culpa não foi minha, a culpa foi de quem me educou ou até mesmo da inocência da idade, onde nunca descobri ou que nunca me disseram que os homens são coisa do diabo, que a terra está cheia de anjos falsos, que o mundo é feio e porco e não te nada a ver com o que eu queria que  fosse.
"A culpa não é tua"dizem-me,tenho que perceber que uma mulher não pode aguentar tudo, que uma mulher tem a sua dignidade e que uma pistola tem um carregador e esse tem várias balas,dispara a sorte e acaba sempre por maguar a alguém.
eu tenho de perceber:" que  uma estrela que brilha mais, brilha metade do tempo e tu brilhaste muito" eu brilhei quando olhava discretamente para ele,apesar de uma das balas me ter ferido a mim.

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