Dizem que há uma caixinha dentro do peito onde a tristeza se guarda.

Gostava de a encontrar, mas como nem sequer sinto o peito, é um bocado complicado. Eu até tenho um coração saudável, com as aurículas e os ventrículos que sabem o que fazem, artérias vastas e seguras como auto-estradas com via verde e pulmões de nadador salvador, mas como há muito tempo que não sinto o sangue estremecer, não tenho peito, se o peito é aquele lugar onde a alma repousa e se acende, se o peito é onde dói quando se sangra de saudade, se é no peito que se ouvem as batidas mais rápidas que nos fazem sentir mesmo vivos.

Dá-me vontade de chorar, mas como as lágrimas também saem da mesma caixinha, os olhos ficam secos e ainda me sinto mais vazia!
Tenho uma parte de mim que pertence a uma pessoa que nos deixou por uns tempos ou para sempre é uma coisa muito estranha e eu não quero viver assim, prefiro cruzar os céus contigo,do que  ficar a ver o corpo que já não me pertence com outra pessoa.
Talvez te voltes a cruzar comigo, atravessando a vida com a morte, atravessando a porta da rua da porta de entrada, atravessando outra vez o meu peito e pode ser que então, nesse momento eterno e irrepetível que é e será o nosso reencontro, a caixa se abra e escoe finalmente toda a tristeza que carrego no peito que não sinto.